O primeiro bear market a gente nunca esquece. Isto é fato. As longas jornadas rompendo suportes gráficos inimagináveis, o derretimento súbito de projetos em que a gente apostava as nossas fichas mais altas, o embrulho no estômago, o metabolismo convulso e o rodar de cabeça decorrentes do inescapável skin in the game.
A sensação de impotência é paralisante e ganha contornos dramáticos quando amigos, conhecidos e parentes nos bombardeiam – na rua, nos bares, no trabalho, nos grupos de whatsapp – com críticas legitimadas pelas notícias apocalípticas das mídias tradicionais, geralmente acrescidos de risos de deboche ou olhares de comiseração. Não.
Nesses momentos, não há pedido de calma ou report técnico que nos aparte do medo, da dúvida e da incerteza. É como se fôssemos simplesmente presas estiradas no leito árido da savana sob as mandíbulas de algum predador.
Situando a ascensão dos NFT games no ano de 2020, este momento consiste, de fato, no debute do setor de Gamefi em um ciclo de baixa. É, sem dúvida, um teste de resistência e resiliência tanto para os projetos inseridos diretamente nesse ecossistema, como para os investidores, desenvolvedores e jogadores que fornecem suporte para ele.
Em última instância, porém, à parte a pressão de venda que sussurra tendenciosamente nos nossos ouvidos, ciclos de baixa são eventos benignos para o mercado e, passados os ventos mais severos da volatilidade, podem ser considerados oportunidades valiosas para posicionamentos assertivos de longo prazo.
Utilizando uma analogia hinduísta, bear markets são como Shiva, concomitantemente destruidores e regeneradores da energia vital.
Como se sabe, o Bitcoin já morreu – ou melhor: foi precocemente morrido – diversas vezes. É corriqueiro que os jornais tirem de suas gavetas as manchetes mais sensacionalistas quando o mercado cripto apresenta quedas severas – o que, diga-se, ainda é uma peculiaridade atinente ao segmento.
Dentre os investidores mais experimentados, certamente posicionados em suportes muitíssimo seguros, essas sentenças de morte são menos declarações de guerra do que piadas internas que geram indubitavelmente mais deleite do que terror. Nesse sentido, caso vocês estejam participando pela primeira vez de um dos muitos funerais do mercado cripto, sejam bem-vindas, bem-vindos e bem-vindes.
Ainda que trôpego e cambaleante, sabemos que o mercado cripto vai sobreviver, mesmo que seja aguilhoado pelas mais duras penas. A pergunta capital que deve ser problematizada com olhar atento é: como o segmento de Gamefi irá passar o seu primeiro inverno?
Essa medida de resiliência, resistência e recuperação é sempre mais difícil de ser metrificada sem que haja um referencial anterior para respaldar as nossas hipóteses. Conjecturas se tornam ainda mais tortuosas quando nos referimos a um segmento marcado pela extrema volatilidade, por sucessos e insucessos repentinos e por um contexto de baixíssima previsibilidade principalmente para o investidor leigo.
A DUX, internamente, utiliza-se de uma série de indicadores que nos permitem navegar com um pouco mais de segurança por esses mares tempestuosos – ainda que, não raro, estejamos sujeitos aos muitos solavancos e guinadas bruscas desses tempos de vendaval.
Algumas diretrizes que nossa equipe utiliza para navegar com relativa segurança nos cenários mais sinuosos são: investimentos de VCs e recursos teoricamente em caixa, engajamento da comunidade, qualidade do time de desenvolvedores envolvido.
A partir desses critérios, selecionamos alguns projetos que possuem pelo menos um dos requisitos necessários para superar – não sem emoção – esse momento de turbulência.
Em termos de engajamento social, os NFT games com comunidades mais ativas nas redes sociais em junho de 2022 foram: Axie Infinity, Decentraland, The Sandbox, Stepn e, surpreendentemente, Floki Inu. Uma comunidade com senso de pertencimento, disposição colaborativa, que advoga em favor da marca e empenha-se na sua expansão é um ativo altamente relevante, que, sem vestígio de dúvida, deve ser levado em conta.
Além disso, os 4 primeiros da lista estão entre os 10 projetos do segmento de games e NFTs com maior capitalização de mercado, dos quais Decentraland, The Sandbox e Axie destacam-se com mais de 1 bilhão de dólares. Nesse contexto, Floki Inu merece uma advertência de cautela já que o jogo detém apenas 58 milhões de dólares de mercado e já foi alvo de acusações escabrosas nas redes sociais. Há sempre que se distinguir entre a capacidade de fazer barulho e gerar buzz de uma comunidade e sua capacidade de sobrevivência em longo prazo.
Ainda fornecendo insights sobre o processo de escrutínio interno da DUX, projetos respaldados por grandes grupos de capitalistas também devem ser avaliados com um considerável ponto de vantagem sobre os demais, principalmente sob os rigores de um cenário adverso, que, conservadoramente, pode durar mais de 18 meses.
Companhias pouco citadas que possuem forte alicerce de capital são: Forte, que levantou vultuosos 910 milhões de dólares em 4 rounds; Mythical Games, que arrecadou 260 milhões de dólares com a liderança do investimento da famosa Andreessen Horowitz, que também investiu 40 milhões de dólares na Irreverent Labs; e Wilder World, com consideráveis 36 milhões de dólares obtidos em rounds com Spartan Group, Animoca Brands, e o auxílio luxuoso de Anthony ‘POMP’ Pompliano.
Independente dos indicadores que fazemos uso para avaliar a integridade de projetos e seu potencial de robustez para atravessar os tempos de crise, mesmo os supostamente mais sólidos jogos estão sujeitos à bancarrota repentina.
Afirmar com convicção quem serão os vencedores e perdedores é agir de forma leviana, negligenciando os complexos fractais de probabilidades que nos rodeiam. Da nossa parte, cabe dizer – talvez com um sorriso tétrico no canto da boca: aproveitem o velório, sejam criteriosos nas escolhas futuras e façam bom uso das oportunidades quando a hecatombe amainar.
Os jogos em blockchain morreram? Talvez ainda estejam apenas em gestação.